As humanas

A humanidade - ou pelo menos metade dela - teria muito a contribuir com a Física Quântica se parasse para analisar seus próprios comportamentos. Poucas coisas no Universo podem ser e não ser, ao mesmo tempo e em tempo algum, como é o desejo feminino.

Os homens humanos são óbvios quanto ao que querem: eles querem mulheres. Em todo lugar, a todo o tempo, onde quer que haja uma mulher, há um homem trabalhando arduamente para tentar conseguir a atenção dela. Seja ao tentar se promover como alfa de um grupo, obtendo sucesso financeiro e social; seja ao pular balançando os braços e genitália, simultaneamente produzindo barulhos frenéticos; estes são exemplos de quão longe a evolução conseguiu levá-los.

O que tento dizer é que os homens sabem o que querem muito bem, só não têm ideia de como atingir seus objetivos. Muitos homens trabalham mais nisso que outros, e eles não são iguais em desempenho cognitivo. Às vezes, a melhor ideia para chamar a atenção que um homem teve até então, no decorrer de toda sua vida, foi buzinar de seu carro para uma desconhecida na rua, expressar facialmente seu desejo por copular com ela, esperar por seu olhar de assustada, mas por fim ficar intrigado por essa tática não funcionar. É sério.

Mas os seres humanos são tão persistentes que não importa se uma atividade coloca em risco a integridade de suas caixas cranianas, eles darão um jeito de construir um capacete mais resistente e ir mais longe com a atividade a qual eles não deveriam sobreviver. E, por ser empiricamente comprovável que homens conseguem conquistar mulheres, é de se supor que isso também se aplica ao sexo.

Entretanto, como compreender o que as fêmeas humanas querem? Se a evolução fosse produto de um designer minimamente capaz, as mulheres teriam desenvolvido a capacidade de imputar pensamentos diretamente nas mentes dos homens desde os primórdios do desenvolvimento cognitivo. Quando um grupo de caçadores fosse em busca dos suprimentos da semana, um dos machos do grupo já saberia que sua parceira deseja a carcaça de cervo diet/light, pois ela está preocupada em chegar aos 30 anos sem celulite (mesmo que a estimativa de vida fosse 26 anos); evitando assim uma longa discussão sobre a mãe do macho, entre outros temas arbitrários.

Mesmo que fosse possível montar um manual explicando o comportamento das mulheres, seria necessário um anexo com uma lista de palavrões adequados para se enviar ao autor quando tudo desse o oposto. Não se pode nem dizer que é uma questão probabilística, pois há casos em que necessariamente se vai errar, e estar certo só o faz mais odiado.

Enfim, se se faz necessária uma descrição, é o mais próximo que se chega com palavras: As humanas são complexas, ambiguas, paradoxais, instáveis, insatisfazíveis e ironicamente as únicas criaturas no Universo que estão sempre certas. Tenha muito cuidado ao manusear, elas são frágeis e podem ser bastante violentas e vingativas.

Os adoradores do tempo [incompleto]

Todo ser humano nasce com uma tendência a acreditar no impossível, ou pelo menos no muito improvável, a chamada fé. Dentre essas ilusões, ou milagres, possivelmente a mais fortemente seguida - e mais improvável de ocorrer - seja a de que o Tempo seja controlável.

Entre as doutrinas predominantes no planeta Terra, nenhuma delas se equipara em quantidade de seguidores, de rituais ou de símbolos, como o dos adoradores do Tempo.

O Tempo é adorado por sua onipresença, onipotência e onisciência. É uma entidade inefável, cujos estudos são - ironicamente - levados muito a sério nos cursos universitários. Desde cedo os costumes são ensinados às crianças, através de brinquedos educativos ou exemplos cotidianos. E é temido pela sua soberania frente aos seres tridimensionais.

Os símbolos que o representam estão em quase todas as civilizações, ao menos nas ditas modernas, e nenhuma destas funcionam em estado laico ao tempo. São exemplos os relógios, em todas as formas possíveis: digitais ou analógicos; de pulso, parede, ampulhetas,
cronômetros e inclusive calendários, a forma mais rústica de mensuração.

É improvável que se encontre um estabelecimento numa dessas sociedades que não possua um símbolo desses pendurado em uma de suas paredes. Um ambiente desprovido de tais elementos causa sensações de perdição, confusão e depressão, típicos de uma crise de abstinência. O mesmo se pode dizer quando o objeto pára de funcionar, é um pânico infindável até sua recuperação ou substituição.

Presentes comumente trocados entre seres humanos, em datas especiais, envolvem equipamentos que lhes informem onde estão em relação ao tempo. Sejam lembrancinhas, como um calendário, fabricado em massa para servir de propaganda, ou talvez um belo relógio suíço, mimado proporcionalmente ao preço, dito tão único quanto todos os outros fabricados antes deste.


Todas essas tentativas de apreender o tempo num objeto tridimensional são inúteis. Não se compreende um quadrado em apenas uma dimensão, nem uma esfera em duas. O Tempo, portanto, só pode ser compreendido em suas quatro dimensões. Com um relógio, não se vê o Tempo, mas o efeito dele sobre as três dimensões percebidas pelo ser humano, graças à sua memória. Afinal de contas, o ser humano não percebe - sensorialmente - o futuro ou o passado, somente o presente. A memória e o aprendizado de estímulos discriminativos dão a impressão de controle do tempo.

A questão é que, apesar de tudo, tenta ver o tempo por apenas uma de suas dimensões, dando-lhe a aparência de um ponto, iludindo-o a uma forma de probabilidade retilínea.
O fim de um ciclo solar é um momento de celebração tão grande aos seres humanos que em todo o globo é possível se observar atividades artísticas referentes à marcação do tempo.

All in

O ser humano nasce com uma patologia chamada 'Fé' que não apenas atrapalha sua vida, como pode encerrá-la precocemente.

A Fé, por definição, é um vício pelo depois. Em outras palavras, 'pagar para ver'. E acaba por atrapalhá-lo na medida que cada vez que se depara com uma aposta mal feita (para constar: pela sua própria estupidez), se torna - ainda mais - infeliz.

Não há problema algum em apostar. Não há uma cultura na galáxia que não tenha seu sistema de apostas. Entretanto, o que essas culturas têm em comum é a utilização de seu córtex pré-frontal no ato das apostas.

Em parte, é isso que define um ser racional. Um ser que saiba apostar. Porém, como bem se sabe, o ser humano é a única criatura capaz de receber a classificação de irracional, na Terra; todas as demais são denominadas não-racionais mesmo.

Fugindo da questão financeira - que é o menor de seus problemas em se tratando de estupidez numa aposta - a Fé é uma patologia tão severa que um indivíduo pode, e não dificilmente o faz, apostar sua própria vida (e as vidas de outras pessoas, que nem lhe pertencem) num pot ridículo.

Não é surpreendente alguém arriscar mais de uma vida pela chance de fugir de 30 segundos preso num farol. Ou pior ainda, dar all in numa causa perdida, como é o caso daqueles que esperam por milagres (outra crença curiosa nos seres humanos, a ser tratada numa postagem próxima).

O valor de uma vida é facilmente calculável para quem está do outro lado da pele. E que também não tenha 'o seu' na reta, claro. Entretanto, para seu dono, a vida deveria ter um preço inestimável, pois não é nada fácil arranjar outra - muito menos depois de perder a sua de nascença.

Por isso, quanto mais se observa um ser humano apostando, mais se duvida dos critérios e propinas recebidas pelos cientistas que atestaram serem os humanos, racionais.

Unununium

Tal qual qualquer outro produto da natureza, o ser humano está sujeito a algumas leis, como possuir uma etiqueta com os dizeres: "Expira em:".

A natureza tem suas artimanhas para criar os elementos que deseja, desde os vegetais para formação de uma atmosfera rica em oxigênio, até os seres humanos, que desenvolveram - sabe-se-lá-para-que - o Unununium.

Este elemento, hoje chamado de roentgênio, possui características curiosas: sendo sintético, ele somente existe em um ambiente bastante propício (dito 'ideal'), e mesmo assim tem sua meia-vida estimada em 15 milisegundos. Sua utilidade prática é indefinida, já que sua existência nesse plano é muito curta, comparativamente aos demais elementos.

Ora, outro elemento que se observa na natureza também apresenta tais características. Foi preciso um ambiente cuja improbabilidade de existência tende ao infinito para seu surgimento. Sua permanência, entretanto, é infima em comparação ao tempo que levou para se tornar existente. E sua utilidade prática não é tão mais surpreendente que do próprio Unununium.


Tendo tão pouco tempo de duração, é melhor que se consuma logo, pois após seu vencimento não adianta rezar para o Serviço de Atendimento ao Consumidor. Claro que para melhor conservação é necessário seguir alguns procedimentos de cuidados, como não expor diretamente ao sol ou manter longe do alcance de filhos.

Falando da Terra

Esta esfera imperfeita, rodeando em elipse uma estrela pequenina na borda mais brega da região ocidental da Galáxia, foi apelidada de planeta Terra pelos humanos. Ela tem aproximadamente 4,6 bilhões de ciclos solares e passou pelas mais diversas transformações para chegar ao estágio de desenvolvimento que se encontra, se recriando e redestruindo a seu bel-prazer, e não aparenta querer parar tão cedo.

Os seres humanos contemporâneos (para não usar em vão 'modernos') não existiam 100 mil ciclos solares atrás; um nada comparativamente à Terra. Dotados de racionalidade, eles têm a magnífica capacidade de serem irracionais, qualidade esta que os distingue de qualquer outro animal nascido na Terra, já que todos os demais (salvo os golfinhos e ratos*), até o momento, caem na classificação de não-racionais.
Com essa irracionalidade concluíram que o planeta existe para seu desfrutar, sendo assim alguns o desfrutam de fato, enquanto outros tentam 'salvá-lo' dos primeiros.

Levou muito tempo e a existência e extinção de muitas criaturas para que fosse formada na Terra uma atmosfera adequada à sobrevivência da diversidade encontrada nela hoje. Que outra maneira além do surgimento de vegetais seria possível à Terra criar massivas quantidades de oxigênio?
Considerando isso, atribui-se às plantas o surgimento de algo que não poderia ser criado espontaneamente. Pois bem, estou convicto de que o surgimento de uma raça com capacidade de raciocínio lógico não foi por acaso. Mesmo os próprios seres humanos aparentam ter uma curiosidade por responder: "Por que estamos aqui?"
Bem, minha conclusão até o momento é bastante simples: 'Plástico'.

A Terra por si só não conseguiria produzir espontaneamente o plástico. Para isso criou as condições necessárias para o surgimento dos seres humanos e que eles tivessem o material necessário para manufaturarem o tão desejado substrato de petróleo.
Para quê um planeta precisa de plástico, ainda não sei. Mas os planetas costumam ter a razão no final, uma vez que quem sobrevive escreve a História, e a Terra estará aqui para apagar as luzes depois que todos tiverem ido.

Próprio-controle

Tudo funciona muito bem quanto ao próprio-controle dos seres humanos, até dar algo de errado. Eles sentem que a geleca que chamam de corpo é o que devem chamar de 'eu' e têm plena certeza de que podem se próprio-controlar.

Quando, por qualquer motivo, se perde esse próprio-controle, há pânico. É curioso como uma caimbra, espasmos ou convulsões não são ligadas a uma ação do 'eu'. Estas são ditas ações involuntárias. Porém, involuntárias para quem?

Muito provavelmente quando pensam em vontade, pensam no 'mim'. minha vida, então eu farei o que quero" - (Frase típica de seres humanos em crise de existência)

Este 'mim', entretanto, também sofre de caimbras. O que chamam de Amor e Neura são típicas manifestações de caimbras do 'mim'. Jogam involuntariamente os pensamentos à uma direção desconfortável, chegando a machucar dependendo em que parte ocorre. Existem em maior ou menor grau, passam com o relaxamento apropriado e podem ser evitadas nos graus mais fortes, na maioria das vezes, mantendo-se aquecido.

O fato de um ser humano ter caimbras não significa, propriamente, que está com defeito. Eles vêm assim da grande fábrica e assim retornam para lá. Claro, com a dor causada por uma caimbra, a passagem de volta às vezes pode ser marcada com um pouco de antecedência... Sobre o prazo de validade, fica para outra postagem.

Concluindo o ano, com atraso

Bem como qualquer país de terceiro mundo, a humanidade é um lugar incrível de se visitar, mas improvável de se querer habitar. Só sobrevivem mesmo os já adaptados.

Com o fim do ciclo solar deles, muito barulho foi feito, muita bebida foi consumida, muitas felicidades e fatalidades lembradas, desejos - infundados - de que o próximo ciclo seja melhor (usados para quebrar o gelo com familiares há muito esquecidos) e mais bebida consumida levando a mais barulho sendo feito.

Os seres humanos têm essa tendência a desejarem. Para si ou para os outros, eles desejam coisas imateriais que acreditam existir. 'Amor, saúde, paz, sorte e felicidade', sempre as mesmas cinco palavras - em ordens diversas - quase que mecanicamente.

Não sei quantos deles já pararam para pensar no que dizem enquanto reproduzem esse costume. Certamente são poucos.

Continuando, essa mania de desejar sempre está associada à tal da esperança. Essa imortal figura que na verdade é a única que morre. Com o fracasso da esperança, o conformismo toma conta de forma tão sutil que não se define o início de um e fim do outro.

Diz-se dos seres humanos como sendo os únicos seres terrestres com capacidade de prever sua própria morte. Antes disso, digo que é o único ser capaz de prever a morte de sua própria esperança.

Sincronia

Uma vez estabelecido o que chamam de 'vida' em seus corpos, os seres humanos passam a seguir a dimensão retilínea do tempo por inércia das probabilidades. Acontece de vez em quando desses caminhos entrarem em sincronia uns com os outros, levando-os a se encontrarem.

Essa sincronia pode durar alguns segundos, como uma entreolhada rápida num corredor, seguida de um sorriso tímido. Pode levar alguns minutos, como uma chata situação de pessoas com uma falsa intimidade que se trombam acidentalmente numa fila qualquer. E pode acabar delas ficarem presas num ciclo de encontros sucessivos, deixando bem confusos aqueles que o percebem.

É interessante observar esses ciclos. É possível assisti-los como se fossem um seriado, uma novela, uma historinha ou como o que quer que tenha metaforizado. Basta eleger um personagem principal e começar a traçar a linha de encontros dele. Verá que acontecerão 'ondas' de aparições de uma mesma pessoa durante um período. Com a mesma velocidade com que essa pessoa surgiu ela desaparece da linha que o personagem principal está seguindo, dando espaço a outros coadjuvantes a fazerem uma pontinha no episódio seguinte.
Claro que até com a cognição humana se pode antecipar as probabilidades de um encontro, mas saindo da sincronia, as mais incríveis improbabilidades acontecerão para que um encontro não ocorra.

Bem como numa dança, cada uma das partes num encontro tem seu ritmo, e é o ritmo particular a cada ser humano que vai definir a afinidade dos encontros. Esse ritmo pode ter vários outros nomes: química, aura, espírito, personalidade, energia, etc., todos se referindo à compatibilidade do par.

É complexo lidar com essas características dos seres humanos. Por um lado, pode ser que duas pessoas tenham uma sincronia perfeita, sempre estão lado a lado, mas falta ritmo a eles, ocasionando uma sensação desagradável de perseguição. Por outro, o ritmo deles pode ser impecável, mas sem sincronia pode ser que nunca se encontrem.

Encontros

Entre o período de tempo do não-existir ao deixar-de-existir, algumas coincidências acontecem e pessoas acabam se encontrando. Cabe ao acaso, destino ou sorte decidir se duas pessoas vão acabar se encontrando, ou não, durante sua estadia carnal. Isso vale para cada pessoa que se encontra. Sejam as figuras parentais - sempre por perto para tudo -, seja o popstar que está em turnê do outro lado do mundo; dos amigos/parentes que moram longe, até o mendigo por quem se passa desapercebido todas as terças-feiras de manhã; são todas pessoas a quem pode-se encontrar apenas uma vez na vida.

Apenas Encontrar é algo comum na racionalidade humana. O Conhecer é algo ainda muito além das suas capacidades. É natural para eles simplesmente Acreditarem e pronto. A partir do momento em que se passa a acreditar em algo é quando se deixa de tentar entendê-lo, é estar satisfeito com o quanto se conhece, e isso normalmente é bem pouco.
No caso de humanos entendendo outros humanos, é difícil. A lei do menor esforço prevalece e acabam se acomodando com as outras pessoas como elas estão. Se se conhece alguém por um certo período já é o bastante para não questionar suas razões e sentimentos por trás de cada ação.
Com isso não digo que o melhor seria todos eles entrarem em conflito o tempo todo, acusando uns aos outros ou o que for. Mas sim que a fé e confiança nas pessoas não cegasse a curiosidade em conhecer os outros.

Duvide do seu humano. Questione a ele e a si mesmo quanto suas razões. Interprete seus sentimentos de mais de um ponto de vista sempre que possível. Não acredite que ele é apenas o que deixa transparecer. Há muita coisa a se descobrir se deixar fluir as dúvidas que se sente.

Semana

"Segunda...




Terça...



Quarta...



Quinta...



Sexta!

Sábadodomingo."


Alguma propaganda

"Era uma vez...

Em um reino - ou melhor, um território dividido em vários feudos - muito, muito distante, acontecia anualmente a recepção de bravos heróis que chegavam de uma longa jornada através de infernos Médios e de diversas provas solitárias de resistência e determinação. Anos de preparação no exílio para, por fim, conseguir alcançar a Holy Land.
Uma vez saudados pelas gerações passadas, estes admiráveis heróis confraternizavam entre si, buscando iguais para compartilhar suas histórias de guerra e interesses há tempos reprimidos.
Um grupo em especial se destacou dentre os outros por ter uma característica evidentemente diferente dos demais: rejeitam a realidade alheia e a substituem pela sua própria. Tal fato é visto por um outsider com estranheza.
Esses estranhos em comum criaram laços. E vêm mostrar por este meio de comunicação quão vasta é a dimensão das probabilidades quando as Realidades importam tanto quanto algo que importa muito, mas muito pouco, mesmo - é sério, de verdade - é bem pouquinho, quase nada."

Profissão

Devido à insatisfação deles em morrer - ainda pior, fazê-lo como um anônimo - seres humanos escolhem profissões para se rotularem e não serem descartados como 'outro', na coleta seletiva da grande Fábrica de reciclagem que é a Vida.

Desde pequenos são estimulados a pensar no que querem ser quando ficarem mais velhos, variando muito dependendo da visão de mundo que o círculo social permite. Isto é, não é que as crianças humanas pensem que querem seguir uma ou outra profissão por mero acaso, mas sim que desde o início são direcionadas a imaginar-se exercendo profissões com valor social elevado, segundo seus educadores. Não é verdade que eles atingirão esses objetivos infantis com sucesso, salvo algumas exceções, mas é por aí que começa.

O fim de algo só se dá quando se esgota a memória sobre ele. Após o esfriamento do corpo físico o que resta é a memória das pessoas com quem se conviveu. A profissão é uma das últimas coisas da qual se esquece quando se pensa num indivíduo. 'O médico', 'o traficante', 'o catador de latinhas' ou 'o professor', substituem mais facilmente Francisco, Adriano, Leonardo ou Gabriel - não respectivamente - do que qualquer outra conotação. Sendo assim, uma pessoa sem uma profissão sente que não tem a que ser ligada depois de sua passagem de volta à Fábrica.

Sobre as roupas

Tenho dificuldade em entender a vestimenta dos seres humanos. Ou, pelo menos, alguns porquês sobre ela.

Por exemplo, chegando mais um momento de desaproximação do Sol deles para o hemisfério em que tenho que viver para não pagar impostos, as coisas estão ficando um pouco geladas por aqui. Decidi então ir em busca de algo que me aquecesse o corpo. Sabendo que sou alérgico ao calor humano, principalmente os que vêm enlatados ou na forma de fast food, fui atrás de algumas roupas.

Para esclarecer uma curiosidade, a economia deles é bastante capenga, confusa, desonesta e peluda. Capenga porque pende para um lado mais do que para outros, evidentemente sempre pro lado minórico. Confusa pois é preciso passar uns bons anos numa faculdade só para poder ler um caderno do jornal. Desonesta porque nas vezes que acreditei nela ela me enganou. E peluda porque... Bem, coisas peludas normalmente não são de todo agradáveis de se engolir. Mas, enfim, vai funcionando do jeito que dá e tem um monte de humanos sendo suicidado só para mantê-la assim.

Continuando, para achar vestimentas fui encarar o ápice do atual modelo econômico deles: o Shopping Center. Andava por seus corredores sabendo que era observado por predadores que espreitavam de suas vitrines, prontos para abater minha carteira e se deliciar com a celulose coloridamente padronizada que tanto os agrada. A cada loja que passava perto para avaliar se os produtos serviriam aos meus interesses, mais me surpreendia com as artimanhas que desenvolviam para me convencer de que é muito melhor usar marrom-acinzentado em oposição ao cinza-amarronzado, e que a diferença estratosférica de preço é facilmente compensada pela total infelicidade das pessoas que não tiverem uma roupa de acordo com o gosto de uma Pessoa de Muito-bom-gosto (que eu nunca vou conhecer, nem mesmo para bater um papo).

Blusas e casacos eram meus alvos. Procurei em cada loja que achei que agradaria essa Pessoa de Muito-bom-gosto, mas estava muito difícil conciliar o gosto dela com o meu. O meu gosto é que uma blusa ou casaco me aqueça de verdade (assim, com terminações nervosas sendo estimuladas e tudo mais), o gosto dela é que o casaco faça com que eu pareça não me importar com o frio que estiver fazendo. Eu realmente tenho dúvidas se na Terra de Muito-bom-gosto chega a esfriar.
Enfim, o que concluí foi que as roupas que desempenham bem a função básica de uma vestimenta são as que menos agradam. As que agradam e desempenham parcialmente a função são as mais absurdamente caras. As que esquentam um pouquinho se se concentrar bastante em imagens mentais de lugares quentes, e até que não desagradam, não existem no seu tamanho. As que de fato agradam a Pessoa de Muito-bom-gosto são encontradas aos montes, pois as pessoas insistem em comprá-las e, passando frio, retornam para comprar mais, não percebendo que não adianta muito usá-las com esse propósito.



Bom, mantenha seu humano vestido, eles são muito feios quando pelados.

Cegueira

Sempre que um humano pára para pensar ele tenta abranger todas as possibilidades, todas as conseqüências dos seus atos e dos outros ou, no mínimo, mais ou menos o que se esperar deles.

Tenho plena certeza que isso é algo da qual eles se orgulham, e muito, quando acertam. E vale da mesma forma aos que acreditam nos instintos, sorte, intuição e sentidos extras - não só na razão bruta. É legal para eles sentirem o gosto da vitória sobre o destino, do controle e da pseudo-onisciência, por mais ilusório que seja.
Porém, quando erram é um momento de revelação. E afirmo que é o momento mais lindo de todos. É quando percebem por uma fração de tempo que o improvável acontece. Nesse momento os limites do possível se alargam, tornando-se milhares de vezes maiores do que eles conseguiam perceber. Suas mentes se transformam em algo entre bolinhas de gude e isopor, passando por pasta de dente e talvez um sofá, durante o processo em que compreendem sua inferioridade diante da imensidão das improbabilidades de um universo quase infinito tridimensionalmente. É lindo, bonito mesmo. Mesmo que não se diga isso olhando apenas para a face deles.


O fato é que eles enxergam três dimensões, se movem em quatro (uma delas com direção e sentido naturalmente imutáveis, o Tempo - mas ilusório quanto ao módulo) e tentam pensar em cinco, a dimensão das probabilidades. Só nessa matemática louca já se percebe como é complicado para eles tentarem antecipar as coisas. Eles não são cegos de nascença, mas criam bloqueios logo cedo para não acabarem enlouquecendo (ver infinitos mundos, com infinitos meios de sair de um útero, de diferentes perspectivas tempo-espaciais, assusta qualquer um - daí o choro incessante). Sendo assim, criam limites até certo ponto e dentro desse espaço mental constroem sua projeção de mundo. Cada vez que esses limites são quebradas se dá pelos erros cometidos ao tentar manipular mentalmente as probabilidades fora do seu mundo.

A diferença deles para com os outros animais terrestre é que eles tentam e tentam prever as conseqüências para se sentirem felizes ao final (não pelo prever em si, mas conseguir chegar às possibilidades mais favoráveis). Os demais animais simplesmente o são no presente e ponto. Ou seja, são cegos que saem tropeçando por aí em busca das chaves do carro para darem uma volta, ir ao cinema talvez, enquanto folheiam uma revista de moda ou de design de interiores, segurando velas por estar muito escuro no celeiro. E os demais animais vão andando aproveitando a brisa fresca de uma tarde de domingo no Outono, sem se preocupar se estão vestidos ou não.


Não lembro direito onde queria chegar, mas tem alguma coisa bem legal para se tirar desse texto para compreender e aproveitar da melhor forma possível o seu humano.

Timing

Para evitar desapontamentos e frustrações, e conseqüentemente fúria e processos judiciários contra minha pessoa, esclarecerei algumas questões envolvendo os seres humanos e o Tempo.

A primeira coisa já foi publicada aqui mais de uma vez e se refere à estupidez que é a insistência deles em tentar medir o tempo. Tempo é tão ilusório que só eles mesmo para calcularem suas vidas em algo assim. Falar que o pós-horário de almoço de Domingo no meio das férias deve ser medido na mesma escala (as tais horas, minutos e segundos, marcadas em relógios de pulso) que a manhã de uma Segunda-feira na hora do rush - quando faltam 15 minutos e 27 segundos para se chegar num lugar que normalmente se leva 23 minutos e 19 segundos (já contando com o limite do limite de atraso) - é ilógico.
É claro, para qualquer ser filogeneticamente mais desenvolvidos que orquídeas de plástico - se o dia para elas não passasse sempre como uma tarde de Domingo nas férias -, que estas concepções são coisas distintas. Mas é um conceito natural a eles - assim como a idéia de sempre ser puxado a 9,8m/s² para baixo - que o relógio, algo tão simetricamente sempre igual, não possa estar errado. Isto é, crêem neles mesmo sabendo que os relógios que medem o espaço temporal decorrido na movimentação dos astros tenham sido regulados pela movimentação desses mesmos astros, que ficam soltos num espaço vazio em que a todo momento sofrem influência de forças gigantescas acelerando-os em todas as direções possíveis, com pontos de referência móveis que em sua maior parte já inexistentes no Presente do Universo.

A segunda coisa se refere à Lei da Inércia da Procrastinação (ou Ausência de Motivação). Ela pode ser resumida na seguinte frase: 'Um ser humano em procrastinação tende a permanecer procrastinando até que uma motivação externa interfira na sua ação.'
O tempo como ferramenta psicológica é um excelente motivador. Se o humano acha que o tempo existe de uma certa forma, ele próprio existirá assim e produzirá nessa escala imaginária.

Uma terceira coisa é relacionada às duas acima, e é uma dica importante para o melhor desempenho de seu humano: A quantidade de tempo que um ser humano acha que tem para fazer algo é inversamente proporcional à quantidade de atividade que será realizada.
Normalmente ele simplesmente percebe em cima da hora que há coisa a serem feitas e tempo quase nulo para realizá-las. Conseguindo concluí-las todas com uma velocidade inexplicavelmente alta. (Já há estudos no campo de tecnologia de propulsão de naves para tentar aproveitar esse boost de velocidade para mover de maneira mais eficiente os veículos e afins.)

Portanto, conseguir que seu humano faça algo de imediato é uma questão de timing, dê-lhe a tarefa no momento em que ele parecer mais ocupado (mas avalie bem a ocupação dele, a procrastinação é terrivelmente camuflável). Haverá xingamentos, já aviso, mas o trabalho é eficiente.


Obs: É difícil não ser contraditório ao falar sobre o tempo usando uma linguagem baseada na inefabilidade do mesmo.

Rotina

Nas grandes cidades humanas, rotineira mas não previsivelmente, ocorre um evento curioso em que eles decidem ir nadando aos lugares ao invés de simplesmente caminhar. Deve ter algo a ver com as guelras que eles apresentam no estágio embrionário, algo adquirido por deriva genética inércia filogenética.

Enfim, para isso eles preparam durante meses os bueiros tampando-os para impedir o escoamento normal de água, para que assim tudo inunde com a primeira chuva que cair.
Ao menos foi essa conclusão a que cheguei, pois não encontrei nenhum outro motivo lógico para eles insistirem em jogar coisas no chão tendo plena consciência dos efeitos disso.

Os seres humanos agem curiosamente quanto à rotina. Quando percebem que as coisas estão na mesma há uma constante de tempo que consideram relativamente longa, decidem que querem mudar. Porém, se a quebra de rotina acontece de surpresa, entram em pânico.
Seja por uma conta que extrapole os gastos previstos, seja por uma companhia telefônica responsável pela conexão banda larga que fica fora do ar, eles se sentem impotentes de fazer algo e se frustram, ficam infelizes (ainda mais) e entram em pânico.
Mas não ficou claro o porquê do pânico que sentem ao sentir a água passando da altura do joelho quando chove. Todo o esquema de entupir o escoamento d'água parece tão bem arquitetado (sempre dá certo) que é quase impossível que seja um acidente. Mas ainda assim eles apresentam os mesmos sintomas de alguém que não esperava que uma coisa dessas fosse possível.


Enfim, quanto a cuidados com seu humano, a dica é que não o deixe largado por conta própria no seu jardim caso não esteja pensando em adquirir uma piscina natural ou coisa assim.

Relógios de pulso

Quando se observa por muito tempo os humanos não dá para não questionar seus hábitos um tanto quanto estúpidos. Alguns poucos humanos (tomo-os como gênios) conseguem perceber quão estúpidos são seus costumes e expor para a população geral de maneira que se entende sem se pensar muito. Dentre eles tem um tal de Douglas Adams e um Julio Cortázar.

Ambos concordam quanto à estupidez dos relógios, especialmente os de pulso. A começar que o tempo é uma ilusão, e tentar medi-lo é uma babaquice. A partir daí que se percebe como vai piorando: O relógio domestica os humanos! Ele se fixa no seu pulso para não largar seu servo fiel (que é cego pela ilusão de possuir e comandar).

Um relógio só é um relógio se tiver corda ou bateria. Pois bem, já viu um humano 'deixar pra lá' um relógio não funcionando? É... Eles não conseguem. Se irritam, entram em pânico, começam a procurar outro relógio para adorar, uma coisa horrível, devo dizer.
O relógio é extremamente manipulador, e ainda assim considerado um presente magnífico para se dar a um humano de quem se goste. É ele quem diz a que horas deve sair, a que horas deve chegar, a que horas deve dormir, a que horas deve levantar. E se não o obedece, desespera-se. Rapidamente coloca-o no pulso e o leva aonde ELE quer ir.
Sem contar no cuidado que se tem com ele. O medo de o perder, de tê-lo roubado, de sequer riscá-lo. Tudo para mostrar que seu relógio é mais mimado que o do pulso do outro.

Enfim, não dá para convencê-los a todos sobre essa questão (de que seus hábitos são estúpidos). Relógios os agradam e devemos respeitar isso. Se quer agradar seu humano por um motivo qualquer, dê um relógio a ele, de preferência suíço de material com nome chamativo e que vá durar muito mais que ele sonha em viver.

Bom, isso foi só uma exemplificação de como observá-los pode ser intrigantemente cômico. Para todos os apreciadores do bom humor non-sense, fica a dica.

'Para que serve um humano?'

Alguns são engraçados.

Indecisão

Sei bem como deve ser difícil comprar um humano tendo a indecisão de qual escolher... Cada um é tão único, igualzinho a todos os outros.

A imprevisibilidade aparente deles me assustava no começo, parecia não ter limites a improbabilidade de seus atos, porém, depois de um tempo se percebe que só conseguem ser inovadores até certo ponto. A imaginação que lhes dá a auto-intitulação de sapiens é limitada. Não conseguem superar uma barreira da normalidade (por mais que digam serem extravagantes).
Alguns poucos humanos com capacidades de expressão fora da curva conseguiram produzir obras tão distantes do padrão humano que foram considerados gênios. Os meios de expressão variam, mas a capacidade deles era tão fenomenal que podem ser compreendidos por grande parte da população com uma rápida análise, ou apenas pelo sentimento que conseguiram passar inerente a quase todos eles.

Se não tem certeza de qual escolher, aprenda mais sobre eles. Visite esse espaço em constantes de tempo para ver se há informações úteis para auxilia-lo na compra. Infelizmente achar um humano com capacidades tão superiores é difícil para uma empresa pequena como a nossa. Posso fazer sugestões de indivíduos que conheci por aí que de fato surpreendem e se destacam da média, mas ainda assim limitados pelas mesmas dificuldades de todos os outros.

Entregas

Para realizar as compras, deve-se dar o endereço de entrega e efetuar o pagamento a vista.

Não entregamos na Terra por motivos de segurança. (Não vendemos humanos a outros seres humanos)

Qualquer região da Via Lactea está isenta de frete.
Outras dimensões e mundos imaginários com frete reduzido.
Demais localizações, podemos negociar.

Sendo o tempo uma ilusão, o tempo de entrega é uma ilusão maior ainda.


Obs: Não entregamos em Neverland também.

"Comprei o produto mas ele veio infeliz, o que posso fazer?"

Não há muito o que fazer, simplesmente.

Os seres humanos tendem à infelicidade (em grande parte pela frustração de serem incapazes de se comunicar) quase o tempo todo. Mesmo aqueles que possuem relógio de pulso quase sempre estão infelizes (Adams, 1979).

Parte da pouca felicidade que exalam durante a vida foi observada que se dá quando acham que conseguiram entender outro ser humano e/ou que foram entendidos por este. Essa condição foi nomeada amor (nos casos mais graves) ou amizade (nos mais leves) na proto-linguagem deles. Infelizmente, para o caso mais grave, constata-se que há surtos de demência e falta de racionalidade.

Essa doença já é bem conhecida e tratável em vários pontos da galáxia, mas dadas as circuntâncias nesse mundinho evita-se trazer a cura: sem essa condição, boa parte dos humanos podem acabar virando pedra.

Entendendo seu humano

Simplesmente impossível.

Devido à total incapacidade de se comunicar e de entender os outros, os seres humanos não conseguem se expressar e tendem a se frustrar por isso.
Suas reais necessidades muito raramente podem ser compreendidas. Isso gera desconforto para qualquer um que tente se importar.

Numa outra oportunidade expando esse assunto.

Avisos

Espaço criado para negociar vendas de seres humanos.
Mas já deixo claro que não negocio com outros humanos.

Aqui, além de tratar das transações, publicar ofertas e promoções, também darei dicas de como lidar com seu humano.

Informe-se bem antes de comprar. Leia as instruções postadas aqui para melhor conservação. Não aceitamos devoluções.