Sobre as roupas

Tenho dificuldade em entender a vestimenta dos seres humanos. Ou, pelo menos, alguns porquês sobre ela.

Por exemplo, chegando mais um momento de desaproximação do Sol deles para o hemisfério em que tenho que viver para não pagar impostos, as coisas estão ficando um pouco geladas por aqui. Decidi então ir em busca de algo que me aquecesse o corpo. Sabendo que sou alérgico ao calor humano, principalmente os que vêm enlatados ou na forma de fast food, fui atrás de algumas roupas.

Para esclarecer uma curiosidade, a economia deles é bastante capenga, confusa, desonesta e peluda. Capenga porque pende para um lado mais do que para outros, evidentemente sempre pro lado minórico. Confusa pois é preciso passar uns bons anos numa faculdade só para poder ler um caderno do jornal. Desonesta porque nas vezes que acreditei nela ela me enganou. E peluda porque... Bem, coisas peludas normalmente não são de todo agradáveis de se engolir. Mas, enfim, vai funcionando do jeito que dá e tem um monte de humanos sendo suicidado só para mantê-la assim.

Continuando, para achar vestimentas fui encarar o ápice do atual modelo econômico deles: o Shopping Center. Andava por seus corredores sabendo que era observado por predadores que espreitavam de suas vitrines, prontos para abater minha carteira e se deliciar com a celulose coloridamente padronizada que tanto os agrada. A cada loja que passava perto para avaliar se os produtos serviriam aos meus interesses, mais me surpreendia com as artimanhas que desenvolviam para me convencer de que é muito melhor usar marrom-acinzentado em oposição ao cinza-amarronzado, e que a diferença estratosférica de preço é facilmente compensada pela total infelicidade das pessoas que não tiverem uma roupa de acordo com o gosto de uma Pessoa de Muito-bom-gosto (que eu nunca vou conhecer, nem mesmo para bater um papo).

Blusas e casacos eram meus alvos. Procurei em cada loja que achei que agradaria essa Pessoa de Muito-bom-gosto, mas estava muito difícil conciliar o gosto dela com o meu. O meu gosto é que uma blusa ou casaco me aqueça de verdade (assim, com terminações nervosas sendo estimuladas e tudo mais), o gosto dela é que o casaco faça com que eu pareça não me importar com o frio que estiver fazendo. Eu realmente tenho dúvidas se na Terra de Muito-bom-gosto chega a esfriar.
Enfim, o que concluí foi que as roupas que desempenham bem a função básica de uma vestimenta são as que menos agradam. As que agradam e desempenham parcialmente a função são as mais absurdamente caras. As que esquentam um pouquinho se se concentrar bastante em imagens mentais de lugares quentes, e até que não desagradam, não existem no seu tamanho. As que de fato agradam a Pessoa de Muito-bom-gosto são encontradas aos montes, pois as pessoas insistem em comprá-las e, passando frio, retornam para comprar mais, não percebendo que não adianta muito usá-las com esse propósito.



Bom, mantenha seu humano vestido, eles são muito feios quando pelados.

3 comentários:

Lucas Coquenão Lemos Ferreira disse...

Sabia
SABIA

Anônimo disse...

Bom... roupas costumam ser assim mesmo. Se roupas fossem feitas com o objetivo único de aquecer as pessoas, seria uma má idéia. Afinal, as pessoas poderiam sair de cobertor nas ruas. Roupas servem pra demonstrar rapidamente a sua personalidade e gostos... meio que te anuncia no mercado social. A funcionalidade da roupa é secundária =P (sim, em tempos remotos não era, mas hoje é)

ArTH disse...

Isso era assunto prum outro post ;/